segunda-feira, 3 de abril de 2017

Entrevista de Alice para a gizBrasil

Já tinha postado a matéria da revista e agora posto a entrevista:


Quando você foi convidada a interpretar Tereza Mendonza em Queen of the South, já tinha certa intimidade com a personagem – havia lido o livro de Arturo Pérez-Reverte oito anos antes. Como esse “preparo acidental” interferiu na sua atuação?

Eu aceitei fazer a série porque gostava muito do livro. Queria interpretar a Tereza Mendonza criada pelo Arturo Pérez-Reverte. O livro está sempre ao meu lado, a cada segundo que ando pelo set. Mesmo os roteiristas mudando a jornada da Tereza do livro para essa adaptação americana, eu tentei honrar a Tereza da obra literária, tentei me apoiar aos detalhes dela, às nuances que o escritor criou.


Nesses tempos bicudos, em que o ser humano precisa rever os caminhos que está trilhando, quem são os autores ou autoras que você recomendaria ler?

Mais do que nunca precisamos voltar a ter um olhar mais leve sobre o outro, sobre o mundo e as coisas. Impossível não pensar em Jorge Amado e Gabriel García Marquez.

Embora o foco de Queen of the South seja a Tereza Mendonza – e não a cocaína, qual é a sua opinião sobre a legalização das drogas?
Sou sim a favor da legalização das drogas e do uso controlado delas. É um problema de saúde pública e não de segurança. Nos países onde há a legalização os índices de violência costumam cair bastante.

À Interview (na verdade ao Wagner Moura, que foi quem te entrevistou), você disse não ser uma atriz internacional, mas sim uma “atriz que trabalha internacionalmente”. E que gostaria de trabalhar com os diretores que admira no Brasil. Quem seriam eles e quais projetos te interessam?
Estou com muita vontade de voltar a fazer projetos mais autorais. Nomes como Felipe Hirsch, Lucrecia Martel, Gabriel Mascaro, Anna Muylaerte, Steve McQueen, Karim Ainouz, Andrea Arnold e Pablo Larraín me interessam muito.

Você tem a sua própria produtora de filmes, a Los Bragas, com sua irmã e cunhado, aqui em São Paulo. Sua tia e mãe são atrizes. Você pensou em ser qualquer coisa que não fosse atriz?
Sempre sonhei em estar no universo do cinema. Por causa dos meus pais, desde pequena frequento sets de filmagem e me foi mágica a ideia de que no cinema não se faz nada sozinho. Trabalhar em equipe é a única forma de realizar um projeto. Isso sempre me foi fascinante. Se não fosse atriz, acho que estaria em alguma função atrás das câmeras.

Como você dosa projetos comerciais (do tipo que fazem dinheiro entrar e a roda girar) com outros projetos mais conceituais (do tipo que alimentam a alma)?
Sempre busquei os projetos que me encantavam através das pessoas envolvidas, seus roteiros e ideias. As portas foram abrindo e eu fui me jogando. Ultimamente isso vem mudando. Ando pensando mais no próximo passo, quais projetos quero de fato fazer e quais diretores me fascinam. Acho que é a idade (risos).

Dizem que a indústria cinematográfica é preconceituosa e regida por padrões estéticos/morais vigentes – que mudam a cada nova vigência. Você sente isso? De que maneira lida com isso no seu dia a dia sem fritar os miolos?
Infelizmente, preconceito está em todos lugares e não é uma exclusividade do meio cinematográfico. Eu mesma me policio para não ser preconceituosa. O preconceito muitas vezes nasce do medo do desconhecido. Procuro ao máximo me informar antes de gerar minhas opiniões e conceitos na vida.

É mais fácil ser mulher ou ser latina na indústria cinematográfica?
É mais desafiador ser uma mulher latina (risos).

Você se considera uma feminista?
Muitas vezes feminismo é visto como radicalismo. Sou a favor da igualdade de direitos. Sou a favor dos direitos humanos.

Sendo uma figura pública, cuja opinião e imagem atingem grandes massas populacionais, você acha importante se posicionar politicamente?
Acho que parte de cada um querer se posicionar. Não é porque a pessoa é notória que ela tem a obrigação de declarar sua opinião. Como você mesmo disse, a opinião de uma pessoa pública atinge grandes massas. Acredito que o mais importante é ter consciência disso.

De um lado, Michel Temer, presidente interino no Brasil, sua pátria. Do outro, Donald Trump, novo presidente dos EUA, país onde se concentram seus principais trabalhos no momento. Ambos forças conservadoras. Como é para você habitar esses dois contextos sócio-políticos tão pessimistas?
Difícil entender como logo após um governo tão transformador como o de Barack Obama, Donald Trump, ser eleito. Mas parafraseando o próprio presidente Obama, a história é composta por ciclos que nos movimentam pra frente e pra trás; movimentos conservadores e movimentos vanguardistas, assim é composta nossa história. Tenho esperança da geração futura, que batalha por um mundo sustentável, que ocupa escolas, que pensa em novas identidades de gênero (vide a última capa da National Geographic sobre o tema). Busco ser otimista apesar de tudo e principalmente acho importante nesses momentos de polarização não incitar ódio e nem raiva.

Existem atualmente em trâmite no Brasil 42 projetos para hidrelétricas ao longo da bacia do rio Tapajós, suportando a vida de etnias, flora e fauna nativas desde tempos inaugurais. Qual a lembrança mais forte de sua visita à etnia Munduruku? O que você aprendeu de transformador na semana em que passou com eles?
A convite do Greenpeace, passei quatro dias com os Munduruku, na aldeia Sawre Maybu, hospedada à beira do rio. Foi minha primeira visita à Amazônia. Lembro-me muito das conversas com os caciques, das histórias contadas e, principalmente, a sabedoria deles sobre o rio e as espécies da região. Pensar nos dias de hoje em construir hidrelétricas que não somente irão destruir a vida desse povo, mas também a natureza é absurdo. Existem outras formas possíveis de energia que não essa. Isso já está mais que comprovado. Realmente, espero que o governo não revogue a decisão sobre o veto à construção no Tapajós.

Você disse (à Interview) que Cidade Baixa, em particular a atuação de Wagner Moura e Lázaro Ramos, mudou sua perspectiva sobre o que é atuar. Como foi isso?
Wagner é um ator completo. Vive e atua com alma, em tudo que faz. A verdade que ele trouxe às cenas e a intensidade em seu olhar me fascinam. Ali vi que o mais lindo nessa profissão é viver, viver o momento, viver a verdade, acreditar e fazer com alma cada segundo. Isso me inspirou e me inspira até hoje.

Você fez psicanálise?
Nunca fiz psicanálise, mas faço terapia. Interesso-me pela psicanálise, talvez algum dia ainda faça… É importante para o autoconhecimento.

Onde você mora exatamente?
Na realidade, moro onde meu trabalho me leva, mas São Paulo é e sempre será minha casa. É pra onde eu volto.

Você gosta de arquitetura e design?
Aprendi a admirar arquitetura e design através do olhar da minha mãe, que é grande apaixonada pelo tema. Ela que me introduziu a Sergio Bernardes, Paulo Mendes da Rocha e Isay Weinfeld e também aos móveis de Sergio Rodrigues. Nas minhas casas coloco o funcional à frente da beleza. Mas adoro quando as duas características se unem, por isso gosto tanto da Lina Bo Bardi e do Sergio Rodrigues. A clássica poltrona Mole, por exemplo, é superconfortável e belíssima.

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Foto: Chritian Gaul
Alice veste calça e top Egrey, sapatos Christian Dior, joias H.Stern
Fonte: GizBrasil

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