domingo, 1 de janeiro de 2017

Muitos Homens Num Só (2015)

                      
Não deu para postar no Natal, mas vamos começando o ano novo com um post sobre um filme "velho" da Alice, que eu ainda não tinha feito uma review, trata-se do interessante "Muitos Homens Num Só", lançado em 2015. Para auxiliar nessa crítica (e me relembrar de alguns trechos, já que faz algum tempo que eu assisti), trago trechos da crítica "Entre a pipoca e o cult brasileiro" de Gabriella Feola do site Omelete (você pode ler na integra clicando no link). Os trechos da crítica dela estão destacados.

Baseado no livro Memórias de um Rato de Hotel - um conjunto de contos sobre um criminoso real que furtava hotéis no século XIX -  que foi publicado  por João do Rio (heterônimo de Paulo Barreto), o filme tem a direção firme de Mini Kerti, e narra a história de Dr. Antônio - o tal rato de hotel - que nos seus ataques a hotéis de luxo, utilizava-se de diversas identidades: daí, o título do filme.


"Um homem charmoso, inteligente e que não é exatamente o que diz ser. Entre golpes e mentiras ele conquista mulheres, amigos e ganha a vida. Praticamente um Frank Abagnale Jr. (Prenda-me Se For Capaz) nascido no Brasil lá pelo final do século XIX."


O filme brilhou no Festival de Cinema de Pernambuco de 2015 - levou 10 prêmios, incluindo direção, melhor filme, ator e atriz, além de direção de arte e trilha sonora. Graças principalmente a perícia técnica da recriação de um ambiente de época, bastante crível. Não faz feio a nenhuma das produções da Globo, por exemplo. Além disso, o roteiro e as falas estão em um tom muito agradável, no limite entre a linguagem rebuscada da época e os diálogos ao qual o público moderno se acostumou.


A química entre Alice e Vladimir Brichta, é um dos muitos pontos positivos do filme, Alice (já tendo atuado com Lazaro Ramos e Wagner Moura, em outras ocasiões) pode finalmente trabalhar com o terceiro elo desse trio de grandes atores baianos, e forma ao lado dele um casal que a gente já tá shippando nos primeiros minutos, apesar de perceber que a relação dos dois vai envolvê-los em diversos problemas: ela por estar presa a obrigação de exercer o papel da tradicional esposa "bela, recatada e do lar" e ele pelo passado nebuloso e pela carreira desonrosa.



" o longa desenvolve personagens profundos e, principalmente, fiéis a si mesmos. Em diversos momentos, o Dr. Antônio passa perto de escorregar para fora da essência do personagem, mas em todas essas vezes ele contorna a situação, fazendo do quase escorregão uma demonstração de equilíbrio e destreza."


O oposto desse casal improvável é formado por uma outra dupla, o investigador Félix Pacheco (Caio Blat) e seu parceiro de investigação. As discussões sobre a descoberta da unicidade das nossas digitais, além de outras "gracinhas" investigativas, dão um tom ainda mais simpático ao filme, especialmente na interpretação do maravilhoso ator Caio Blat, que tem papeis que sempre me cativam no cinema.


"Blat faz dupla com Silvio Guindane, ator que vive uma espécie de jornalista alter-ego de João do Rio, com quem discute questões sociais, éticas e avanços tecnológicos das ciência forense".

                                         

Sobre a personagem da Alice: Eva, é uma esposa de um homem de negócios, logo na primeira cena dela, podemos ver o marido a reprimindo por não agir com a descrição que lhe era "esperada", e esse tom de "rebelião dos padrões mais tradicionais" vai seguir a personagem por todo o filme, a unidade nas atitudes dos personagens, é mais um dos muitos pontos positivos do filme. Eva é uma talentosa desenhista, mas é impedida pelo marido de exercer o seu talento, e vê na imagem do sedutor Dr. Antonio uma espécie de elo para a liberdade que ela parece ansiar, enquanto isso, ela mesma funciona "desarmando" o até então imparável ladrão.


"Apesar de Muitos Homens Num Só ser um drama, as pequenas trapaças da primeira parte do filme, salpicadas com breves perseguições, criam um tom de aventura que dá dinâmica ao filme, sem torná-lo mirabolante. Kerti acompanha a história do anti-herói carismático e escorregadio mas não se limita ao esquema de filmes de golpe em que a trama busca prender o espectador pela sua suposta complexidade e por ligações inusitadas entre mais de uma dúzia de personagens improváveis. Muitos Homens Num Só se mantém sobre uma base simples, porém bastante sólida."


Se devo pontuar algum ponto negativo do filme, eu diria que a fotografia/iluminação do filme - embora muito bem feita e até premiada - soa um pouco "sem graça" aos meus olhos modernos, esse tom "cinza" do filme o faz parecer monótono, mas tem totalmente motivo de ser: representar uma época menos cheia de vida, mesmo. Devo confessar, também, que não gostei muito do fim do filme, mas foi no sentido de: entendo, mas não concordo. O clássico final feliz, visivelmente não era a alternativa mais viável e crível para um casal tão improvável, em especial se tratando de um filme de época (onde divórcio e segundos casamentos ainda eram tabus) além do mais, uma personagem forte como Eva precisava de um final que destacasse justamente essa força e auto dependência nela, ainda assim, dá uma tristezinha de ver como as coisas se desenrolam, mas nada que estrague a presteza técnica e o cuidado com que é conduzido todo o filme.


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